Bariloche: A terra da cerveja

23 de outubro de 2018
Bariloche: A terra da cerveja

Pense na gastronomia argentina. Carnes, empanadas, medialunas e um excelente malbec vêm à sua mente? Então é bom rever seu conceito, pois os hermanos entraram de vez na produção cervejeira, tendo Bariloche como importante polo.
Em Bariloche, é comum a temperatura mínima chegar a -1 °C. É justamente esse clima gélido que vem encorajando muitos mestres cervejeiros a migrarem para a Patagônia, região que hoje acolhe cervejarias tradicionais e pequenas produções familiares. Entre os muitos rótulos está a popular Berlina. “O ambiente natural onde se fabrica a Berlina é perfeito. A fábrica fica ao pé da Cordilheira dos Andes, o que significa dizer que a água é de excelente qualidade”, explica Bruno Ferrari, mestre cervejeiro da marca. Atualmente, Bariloche conta com mais de 40 cervejarias. E não pense que o frio é desculpa, pois lá são elaborados tipos robustos e encorpados, como a stout, a tripel e a barley wine, que possuem teor alcoólico elevado e sabores complexos, e que por vezes são envelhecidos em barris. Esses tipos apostam menos no frescor e mais no sabor, devendo ser degustados acima de 6 °C.

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EXPLOSÃO CERVEJEIRA

Em pleno crescimento, o mercado cervejeiro de Bariloche segue os passos da cidade, que tem se expandido com a chegada de novos moradores em busca de paz e trabalho, vindos de grandes centros urbanos como Buenos Aires, Córdoba e Rosário. Eles trouxeram a demanda por uma vida noturna com mais opções, e as cervejarias entraram em cena como uma alternativa aos restaurantes e às casas noturnas. “Com o movimento migratório, até os nativos que não eram acostumados a sair passaram a frequentar bares. À exemplo da maioria das cidades pequenas, os habitantes de Bariloche não tinham o hábito de jantar fora ou sair para ouvir música à noite. Agora, em qualquer dia da semana as cervejarias ficam repletas de pessoas. As cervejarias transformaram a cidade”, descreve o uruguaio Gianni Campochiaro, que hoje vive em Bariloche, mas já morou em Buenos Aires, São Paulo, Porto Alegre e San José, na Costa Rica.

Bruno Ferrari, mestre cervejeiro da cervejaria Berlina / © Francisco Ramos Mejía

Outra explicação para essa explosão é a necessidade de favorecer o jovem turista. Em todas as temporadas, Bariloche recebe muitos jovens e universitários. “A cidade tinha um problema antigo, que era a falta de locais onde os estudantes pudessem se encontrar, beber e comer. As cervejarias preencheram essa lacuna”, completa Campochiaro.

TURISMO ETÍLICO

Passar por Bariloche sem conhecer a cervejaria Patagônia seria uma experiência incompleta. O rótulo, que hoje pertence à Ambev, é o maior expoente da região. Seu bar, localizado às margens do lago Perito Moreno, é ponto turístico obrigatório. Acredite: apreciar a cerveja vislumbrando o bosque de mata nativa é uma experiência indescritível. Ali mesmo na reserva florestal produzem-se os melhores tipos da marca. “A produção de Bariloche é consumida somente no bar de Bariloche. Temos mais de 15 tipos, pois, ao contrário de sedes como Buenos Aires, somos uma casa criadora. Aqui inovamos, experimentamos, recepcionamos cervejeiros de outros países e, às vezes, criamos tipos que não vendemos e sequer saem daqui”, revela a gerente de eventos e conteúdo da cervejaria Patagônia, Lucia Molina.

Lucia Molina, gerente de eventos e conteúdo da cervejaria Patagonia / © Arquivo cervejaria Patagonia

O estabelecimento oferece aos visitantes uma visita guiada ao setor de produção. O público fica conhecendo os ingredientes da cerveja e o processo de fabricação, e o roteiro é finalizado no bar, onde se serve entrada, prato principal e sobremesa, tudo harmonizado com tipos específicos. “O visitante aprende sobre o alinhamento entre os sabores da comida e da bebida de maneira a não sobrepô-los. Por exemplo: servimos um pescado de entrada que vai bem com o sabor cítrico de uma weiss. O cordeiro como prato principal combina com uma Indian pale ale (IPA) e a sobremesa de chocolate fica perfeita com uma porter”, observa Lucia. Pioneiro, o tour da Patagônia inspirou outras empresas e hoje há uma programação completa voltada para as cervejarias e bares da região. Victoria Queirolo e Sofía Martín criaram, em 2017, o Beertour Bariloche. “A receptividade é excelente. Assim como Bariloche oferece variadas possibilidades gastronômicas, tem também muitas opções de cervejarias”, afirma Victoria, que refuta a máxima de que cerveja é bebida de verão. “A cerveja artesanal não deve ser saboreada gelada, porque a baixa temperatura torna os sabores e os aromas imperceptíveis. Nosso propósito é evidenciar ao máximo todos os ingredientes para que o turista tenha uma experiência memorável.”

GEOGRAFIA FAVORÁVEL

San Carlos de Bariloche situa-se a apenas 120 km de El Bolsón, cidade que abriga o maior aeroporto da região e ostenta o título de maior produtora de lúpulo na América do Sul. “Essa característica se explica facilmente. A cidade está localizada no paralelo 41 – a mesma distância da Alemanha em relação à linha do Equador –, o que torna o clima de lá ideal à produção de malte, lúpulo e levedura. Além disso, o clima seco e frio auxilia na maturação, já que dispensa máquinas de refrigeração”, explica Victoria.

© Arquivo cervejaria Patagonia

Diz-se que o responsável por descobrir esse favorecimento geográfico foi um alemão. Admirado com o clima propício à cultura do lúpulo, Otto Tipp estudou e tirou proveito do solo local. Ao repararem que o lúpulo crescia com prosperidade, os demais agricultores passaram a investir no cultivo da planta. Hoje, El Bolsón celebra a Fiesta Nacional del Lúpulo, que irá para sua 44ª edição em 2018. No tradicional evento, mestres cervejeiros e produtores de lúpulo expõem seus produtos ao lado de pratos típicos e atrações diversas. Definitivamente, Bariloche é muito mais que um destino de neve. “Quem vive em Bariloche percebe que a cidade está crescendo, e isso não vai parar. Bariloche está cheia de vida e todos ficam felizes com essa atmosfera positiva”, finaliza Gianni Campochiaro.
© Arquivo cervejaria Patagonia

RÓTULOS

O tour cervejeiro de Bariloche inclui três proeminentes cervejarias, mas a cidade também conta com pequenos e qualificados produtores. Confira abaixo.
Bachmann | Localizada no centro de Bariloche, é uma das mais concorridas cervejarias. A IPA é a especialidade da casa.

Blest | A cervejaria Blest é uma das pioneiras na produção artesanal de Bariloche. O ambiente informal é carcaterizado pelos descansos de copos desenhados por visitantes e fixados nas paredes. Entre os tipos produzidos estão pilsen, bock, scotch ale e cream stout.

Konna | A Konna começou a fabricar cervejas em 2009, e o sucesso foi tão grande que dois anos mais tarde ela abriu um bar. Seus tipos mais pedidos são a porter, a kölsch e a IPA.

La Cruz | O método de produção é irlandês, o clima é irlandês, mas o produto é argentino. Cervejaria especializada em tipos encorpados, como IPA, English pale ale, barley wine e IPA double hop.
Manush | Outro disputado point cervejeiro de Bariloche. Essa aconchegante cervejaria capricha na tábua de frios, que harmoniza com com os mais de 20 tipos de cerveja da sua carta.

Wesley Brewery | Este microempreendimento é tão familiar que mantém a fabricação na chácara do avô que fundou o negócio. Seu pub aposta em estilos robustos, como IPA, double IPA, porter e American pale ale.

HARMONIZAÇÃO

A gastronomia portenha é reconhecida por suas carnes e sua confeitaria. Na região patagônica, contudo, predominam os frutos do mar. Para cada item de toda essa variedade há um tipo ideal de cerveja. O propósito da harmonização é que os sabores não se sobreponham. Por isso, a relação deve se dar por contraste e não por semelhança de sabor.

Assados


No caso de carnes vermelhas e gordurosas, aposte em cervejas lupuladas, como a IPA. Cervejas escuras, mais amargas e com notas de caramelo ou café contrastam bem com a gordura do assado.

Doces


Bariloche tem confeitarias maravilhosas. Para harmonizar com doces, a dica é apostar em uma porter ou em uma barley wine, que são escuras, possuem malte tostado e graduação alcoólica mais elevada.

Frutos do mar


Para harmonizar com pescados, a pale ale é ideal, por ser clara, suave e cítrica.

Empanadas


Os hermanos são famosos pelas empanadas. Se optar pelo recheio de carne, escolha cervejas vermelhas e amargas. O recheio de frutos do mar pede tipos claros e leves, e o de frango combina com cervejas claras e não muito amargas.

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Esse conteúdo faz parte da revista do Point da Neve – Temporada 2018/2019. Para ler o conteúdo completo é só clicar aqui.