História e belezas da Patagônia Sul

23 de outubro de 2018
História e belezas da Patagônia Sul

Pinguins, lobos-marinhos, lagos congelados e vegetação cristalizada pelo frio. Na região mais austral do planeta, a maior atração turística é uma geleira. A história da muralha congelada de Perito Moreno é pano de fundo de um cenário extasiante. Embarque nessa trip onde tudo é extremo.
A Patagônia Sul é uma região de rara beleza natural. Sua fauna e flora impressionam e lembram aqueles documentários da National Geographic e da BBC que de tão incríveis até parecem ficção. Embora as comunidades de pinguins e lobos-marinhos encantem, não há nada mais imponente do que a geleira Perito Moreno ou, como é chamada pelos argentinos, Glaciar Perito Moreno. Essa muralha de 60 metros de altura se estende do campo de gelo sul-patagônico ao Lago Argentino, o mais austral dos grandes lagos do mundo. A geleira foi batizada Perito Moreno em homenagem a um dos mais renomados pesquisadores naturalistas do planeta. Francisco Pascasio Moreno viveu de maio de 1852 a novembro de 1919. Seu legado são centenas de descobertas fósseis, a expansão do território argentino em 1800 léguas quadradas e o termo parque nacional, adotado pelos Estados Unidos na denominação do Parque Nacional de Yellowstone. Hoje a memória de Francisco está viva nos livros didáticos e entre seus familiares que residem na Argentina e no Brasil.

FAMÍLIA MORENO

Francisco Moreno palmilhou a Argentina no rastro de descobertas. Suas andanças incluem subidas de carroça pela Cordilheira dos Andes com a família a bordo, travessias de lagos com escassos mantimentos e pesquisas em tribos indígenas isoladas. Foi casado e teve uma porção de filhos e netos. Alguns de seus descendentes vieram para o Brasil, entre eles Ignacio Moreno, tataraneto do grande cientista e hoje residente em Imbé (RS), cidade no litoral gaúcho. Ignácio é pesquisador do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em 1983, aos 10 anos de idade, Ignacio se mudou para Porto Alegre (RS) com a família, afligida pelos desdobramentos da Guerra das Malvinas. Do famoso tataravô ele apenas ouvia falar. Só foi dimensionar a relevância de Francisco muito longe da América do Sul. “Não ligava para o parentesco até fazer doutorado na Nova Zelândia com um dos melhores paleontólogos do mundo. Quando me apresentei como argentino, meu orientador perguntou se eu conhecia outro paleontólogo de nome Moreno. Quando disse que era meu tataravô, ele chamou um japonês que também era fã do perito e ambos me reverenciaram. Ali percebi sua enorme valorização científica”, relata.

Ignacio Moreno, em visita ao Glaciar Perito Moreno (1995)

PALMILHANDO A CORDILHEIRA

E por que ganhou a geleira patagônica o nome do naturalista? “Seu maior objetivo era encontrar o ponto de intersecção da Argentina com o Chile na Cordilheira dos Andes. Era obstinado em descobrir por que algumas terras pertenciam a um país e não ao outro”, conta Adela Gimenez, outra tataraneta de Moreno, que hoje mora e trabalha como assistente social em Mar del Plata, na província de Buenos Aires. Com fundamentação científica, Francisco Moreno comprovou que regiões montanhosas e marítimas até então consideradas chilenas pertenciam à Argentina. Graças aos seus estudos, nossos vizinhos anexaram ao seu território 1800 léguas quadradas, acontecimento que tornou o pesquisador um ícone, sobretudo na Patagônia. Para Adela, mais do que as inestimáveis descobertas científicas, Francisco Moreno deve ser lembrado pelo profundo respeito à igualdade humana. "Ele e sua esposa cozinhavam para os jovens da Patagônia na época em que a região era pouco habitada. Ele tinha uma frase que sempre carrego comigo: ‘Um menino de barriga vazia não pode escrever a palavra pão’ ”, finaliza Adela.

Adela Gimenez e seu marido Jorge Iacono em visita à Patagônia

EL CALAFATE

Não se costuma chegar ao Glaciar Perito Moreno sem passar por El Calafate. A cidade de 22 mil habitantes é um dos principais pontos de hospedagem para quem visita a Patagônia Sul. De lá partem os passeios guiados rumo à geleira. El Calafate gira em torno da Libertador San Martín, a principal avenida da cidade, onde se encontram boas opções hoteleiras, gastronômicas e varejistas. É um lugar bacana para comprar geleias, patês, tomar um chocolate quente e bater perna atrás de artigos de lã e couro. Uma dica valiosa: não deixe a cidade sem experimentar o cordeiro patagônico, uma saborosíssima carne de ovinos criados nas províncias vizinhas de Santa Cruz e Chubut.

Outro importante monumento natural das cercanias de El Calafate é o Glaciar Upsala, uma geleira que embevece os olhos pelo singular tom azulado de seus icebergs. A cor se intensifica ainda mais com a incidência dos raios solares. O Glaciar Upsala fica bem próximo à Estancia Cristina, uma área particular que desde 1912 pertence à família Masters, da Inglaterra. O terreno, de extensão equivalente a 30 campos de futebol, foi comprado para criação de ovelhas e hoje possui uma pousada e um restaurante muitíssimo aconchegantes. A Estancia Cristina oferece passeios e trilhas guiadas pela região.

USHUAIA


Se El Calafate é conhecida por suas geleiras, Ushuaia se notabiliza pelos lagos, animais marinhos, infraestrutura hoteleira qualificada e excelente gastronomia. Trata-se da cidade mais austral da Patagônia Sul; sua distância em relação a El Calafate é cerca de uma hora e meia de avião. Localizado a 800 km do continente antártico, onde as temperaturas médias no verão não chegam a 10 °C, o destino é banhado pelo Canal de Beagle. Dali partem passeios de catamarã, onde se avistam aves e leões-marinhos. Outro barato é o centro de esqui, a 26 km da cidade e a somente 195 metros acima do mar. A estação Cerro Castor inaugurou-se em 1999 e conta com 33 pistas, 12 meios de elevação e 34 km esquiáveis.

As lagoas abastecidas pelo derretimento das geleiras são outro grande atrativo de Ushuaia. Ganham destaque os lagos Escondido e Fagnano e a Laguna Esmeralda, cujo verde da água tem efeito espelhado, refletindo a circundante cadeia de montanhas. Se a tão rara beleza e história desse lugar lhe parece ficção, não pense duas vezes: embarque nesta trip para ver e crer.

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Esse conteúdo faz parte da revista do Point da Neve – Temporada 2018/2019. Para ler o conteúdo completo é só clicar aqui.