Neve & Amor de Verdade

7 de novembro de 2018
Neve & Amor de Verdade

Era o início dos anos 1990. O esqui na neve era algo desconhecido para a maioria dos brasileiros. Tanto era assim que colocávamos a bandeirinha do Brasil em algum canto do macacão para o caso de encontrar algum brother em um centro de esqui deste mundão e, claro, fazer a maior festa.
Durantes as temporadas de neve do Hemisfério Sul, eu ficava em Bariloche de junho a setembro, recebendo os grupos de esquiadores para a sagrada Skiweek. Eu operava com diversos hotéis e pousadas da região, pois havia quem queria ficar no centro, quem preferia a beira do lago Nahuel Huapi, e ainda quem optava pela base de Cerro Catedral para acordar junto às pistas. Assim, acabei amigo de muitos hoteleiros, vivenciando ótimos momentos ao longo de muitos anos.
Entre as muitas pousadas estava a pequena e aconchegante Hosteria Santa Rita, localizada à beira do lago e com uma das mais lindas vistas deste universo. O dono era o Alfredo, uma figura especial. Executivo de multinacional, ele resolveu viver a natureza de Bariloche após um divórcio. Comprou a pousada e fez dela um lugar esplêndido. Seus happy hours eram memoráveis e atraíam gente de outras pousadas. Ficamos amigos de infância à primeira vista e eu vibrava com seus êxitos a cada semana. Mas o Alfredo sofria de amor. Aliás, de falta de amor. O êxito profissional nessa nova etapa, a natureza quase inigualável de Bariloche, os muitos amigos conquistados, os discos de jazz, o esqui no Cerro Catedral, os passeios de barco no lago, os passeios de bike no Circuito Chico, tudo isso junto era pouco, pois lhe faltava o tal do Amor.
Um dia... Que dia! Recebi um grupo de 20 pessoas, algumas das quais iam se hospedar na Hosteria Santa Rita. No grupo estava a Clarisse, uma professora de inglês lindona e querida, mas triste por causa de um divórcio recente. Meninos, eu vi: quando os dois se olharam na portaria, o Amor aconteceu! O Alfredo ficou gago, a Clarisse ficou muda, e quem fez o check-in dos hóspedes na pousada fui eu, absolutamente encantado com tudo. Bem, a noite deve ter sido longa na Santa Rita, mas eu tinha gente para atender em outras pousadas e saí para a ronda com meu potente Gol 84 e suas correntes para neve.
No dia seguinte, ao raiar da manhã, passei na hosteria para organizar a programação de esqui da galera. O Alfredo havia preparado, durante a noite, um café na neve. Imaginem toalhas xadrez vermelho e branco, todo o tipo de guloseimas, guardanapos brancos, som escolhido (acreditam?) e mais um montão de belezuras. Tudo isso no bosque ao lado da pousada, rodeado por muita neve e em frente ao lago. Ainda tinha cheirinho de cipreste no ar e blackbirds cantando nos pinheiros. Algo lindo, em um lugar belíssimo... na mais pura Magia do Amor.
É claro que deu certo. Alfredo & Clarisse seguem juntos, quase 30 anos depois, rodando o mundo e curtindo a vida. E eu sigo apaixonado pela neve e pelas histórias de amor. L’amour, toujours!
Beto Valle, sócio do Point da Neve.
Esse conteúdo faz parte da revista do Point da Neve – Temporada 2018/2019. Para ler o conteúdo completo é só clicar aqui.