Neve & o homem que comprou a montanha

15 de outubro de 2018
Neve & o homem que comprou a montanha

"  ...  e quem não pode,  se sacode .  "

O inverno de '81 foi excepcionalmente frio nos Andes ...  desde a Páscoa já caíam nevascas,  e as gentes de montanha comentavam, nas rodinhas de mate,  sobre o comportamento das formigas, das árvores,  abelhas,  e de todo o tipo de sinais que avisavam  :   ôjo,  ano de muita neve.
Já em Junho,  as pistas das estações de ski da Argentina e Chile   -  que me lembre elas eram Bariloche, Portillo,  Farellones,  e Antillanca  -   estavam branquinhas,  com neve acumulada na base,  prometendo uma temporada supimpa ...   a galera da neve se agitou, correu o boca a boca,  e a notícia acabou chegando na imprensa mundial .
É claro que isso atraiu a atenção de skiers americanos e europeus ...    e assim,  já no início de Julho,   Bariloche estava explodindo de gente de todo o planeta.
Todos hotéis e pousadas da região estavam lotados,  os restaurantes tinham aglomerações na porta,  e os skilifts do Cerro Catedral enfrentavam enormes filas.
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Aí,  num belo dia,  sexta-feira,  pousou no pequeno aeroporto da cidade um Boeing enorme,  de um sheik com toda a sua entourage.
Chiquetésimo ...  sem dúvida,   era a coisa mais impressionante da região.
Foi o assunto do momento no povoado .
-  naquela época, eram menos de 20.000 pessoas, todos se conheciam ...
-  e nos churrascos das noites,  todos comentavam sobre o avião com torneiras de ouro  ;   sobre as roupas exóticas,  os seguranças com metralhadoras ...   comerciantes imaginavam formas de oferecer seus produtos   ;    todos reclamavam dos preços do petróleo ...
E assim a pequena Bariloche lidava,  num caos colorido e alegre,  com seus milhares de turistas -  e seu visitante inusitado.
O Cerro Catedral,  naquela época,  era operado por duas empresas concorrentes  :    a área de ski era dividida entre o lado esquerdo ( Lado Robles )   ;    e o direito (  Lado Bueno ),   com a necessidade do uso de passes de ski distintos para os esquiadores poderem usar todas as pistas da montanha.
Naquele momento,   com a vinda de esquiadores de todo o mundo,  ambos lados estavam completamente lotados ...   as filas da Base passavam de 1 hora de espera em qualquer dos lados   ;   e nas intermediárias, qualquer uma,  sempre chegavam aos 30 minutos.
Mas a neve estava fantástica, os dias eram azuis e ensolarados,  e a galera levava na esportiva.  Mais ou menos.
Digamos que à beira de um levante popular.
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Pois,  neste contexto ...   o tal do sheik comprou um dos lados da montanha,  inteirinho,   para o seu fim de semana.
Exatamente quando,   aos skiers de todo o mundo,   se somaria boa parte da população local  -  doida para aproveitar a montanha com suas famílias , em seu amado Cerro Catedral,  no sábado e no domingo de sol e neve powder.
Imaginem a cena surreal  :    um lado da montanha completamente vazio,  os skilifts rodando sem ninguém    ;    e o outro,  com filas gigantescas e gente irada, por supuesto.
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O vi diversas vezes nestes dois dias,  aliás até chegamos a esquiar bem pertinho.
Fiquei com uma profunda sensação de que ele adoraria passar para o lado de cá,  tadinho.
Aloha do beto valle